Friday, June 1, 2007

Só o teu amor é tão real...

Querida mana:

E acabaste mesmo por chegar até mim novamente, nesse murmúrio que incrustaste no relevo da carta que me enviaste. Cedo percebi, nos tempos em que brincávamos juntos, que tu sempre gostaste de me contar segredos entre as linhas do tempo, deveria ter recorrido mais cedo, então, a essas lembranças. Porque são tão cheias de ti... me acalentam no vazio.
Embalas todo o teu amor em murmúrios e o sujeitas a tanta distância, sabes que as palavras banais não têm espaço para trazer com elas seja o que for, a não ser que se aliem, que se cosam em fileiras de esperança e que dessa maneira tragam com elas o mundo inteiro. Num único deslumbre dizes tanta coisa e escondes tantas outras coisas mais, e assim reúnes a composição métrica ideal para a continuação do tempo.

Vai-e-vem a poeira no deserto, vão e vêm uma infinidade de oásis, mas só o teu amor é tão real.
De tudo o que vejo em meu redor, perdido no deserto, apenas tu não és uma visão que me trai os sentidos, tudo o resto se desvanece ao fim de algum tempo, tudo o resto não é mais que poeira que tarda tanto em acentar, deixando-me a vista nublada e os sentidos sem norte. Solidão, essa quentura que me suga a água do corpo, sinto-a na garganta que nada mais faz do que cuspir terra, sinto-a na pele, e nos joelhos, que cedem ao cântico da fraqueza, assim como todo o corpo num desmaio profundo. É contigo que sonho. Com tudo o que já fomos juntos, com tudo o que ainda conto ser contigo, com tudo o que ainda está para vir e que nunca virá. Silêncio, é tudo o que me resta, e esse teu amor que de tão só, é tão real...
Que mundo permite, que se crie entre ele, uma extensão tão vasta de deserto, que desinspiração se desenvolveu nos gases da atmosfera e que priva o solo de toda a riqueza que nos ensina a crescer? Falas entre as linhas do tempo, felizmente, só assim as verdadeiras palavras passam por essa nuvem de indiferença, e se escapam da condenação à escuridão do resto do universo, só assim me vejo capaz de ouvir esta voz dentro de mim:

"Gritar quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim
Gostava até de matar-me,
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim..."

Agora sei que há muito tempo que cantava para mim. Do murmúrio senti o teu apelo e o guardei a sete chaves. A voz que cantou dentro de mim revelou-me o teu segredo e me abriu todo um novo horizonte de esperança...

Do teu, para sempre, irmão

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