Saturday, May 26, 2007

Love Letter

Querida mana:

"Porque caem edifícios sobre mim, mundos, e eu não me contenho, e vens tu vestida nesse sorriso e me pesas tanto que me detenho? Serás feita da pedra que me contorce ou és a única leveza para a qual não consigo sustento, um sinal de fraqueza, um sinal de humanidade"

É um excerto do que me parece até ao momento uma carta, que encontrei no deserto . Sim mana, decidi sair do telhado e me render à terra. Essa terra suja de vergonha por todo o mal que consentiu. Foi sobre a imensidão do deserto que me deparei com um pedaço de papel, queimado com o tempo. O pedaço, para meu desgosto encontrava-se rasgado, e continha apenas mais algumas palavras:

"Quando me procuras e eu me escondo em segredos não te fujo, protejo-te de mim. Acho que ao me ver capaz de tanta coisa, sinto que o mundo à minha volta se torna mais frágil, quebradiço. E eu não quero que partas... "

O papel era do género timbrado e repetiam-se as iniciais "LL" como fundo, em todo o texto. Mana, achas que estou a ler uma carta de amor? Haverá ainda alguma sobra de amor? Impossível neste mundo, tudo foi consumido pelo degelo intelectual que inundou todas as vontades, para depois se retirar, deixando este solo seco sem raízes capazes de criar. Como poderia sobreviver um amor num deserto árido, onde toda a nossa pele assa no vento, e todo o nosso ser se transpira? Qualquer que fosse o amor, estou seguro que seria eterno...

Do teu, para sempre irmão.

PS: Não te preocupes mana. não me distraí do meu propósito, a minha ânsia de encontrar a mãe continua bem viva. Apenas acho que é sempre bom ouvir uma história de amor sobre a imensidão de um deserto. É um sinal de esperança. Seria óptimo encontrar os pedaços que faltam... Continuo a aguardar uma nova carta tua.